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9 de abril de 2008

Historiografia Brasileira – Estudo das Populações Indígenas

Há dois binômios que nos ajudam a compreender a historiografia das sociedades indígenas, são eles aculturação e resistência, ponto de partida dos historiadores que colocaram os povos indígenas na pauta da História, também o binômio tradição e mudança que se constitui na pedra angular sob a qual se constrói a nova historiografia brasileira referente a população nativa.
A Profª. Drª. Maria Cristina Bohn Martins explica que durante a década de 80 ocorreu uma mudança de foco na produção historiográfica, passou-se a pesquisar a História do ponto de vista dos vencidos. Essa mudança foi bastante positiva, porém ela vitimizou os índios, como se não desempenhassem qualquer protagonismo, não se encontravam na posição de agentes de sua própria História. Martins identifica duas obras importantes na historiografia das populações indígenas por romperem com esta tradição e promoverem mais uma vez uma mudança, prova da dinâmica existente na construção do conhecimento histórico. A primeira obra trata-se de Metamorfoses Indígenas, tese de doutorado de Maria Regina C. de Almeida, e a segunda Religião como Tradução: Tupi e Tapuia no Brasil Colonial de Cristina Pomba. Ambas foram orientadas por John Manuel Monteiro, autor de Negros da Terra e pioneiro ao avançar no século XVII e mostrar que o papel dos indígenas não se interrompe na exploração do pau-brasil.
Maria Regina C. de Almeida pesquisou a identidade e a cultura nas aldeias do Rio de Janeiro colonial. Durante o período pombalino transformavam-se e misturavam-se aldeias para formação de vilas, com o intuito, entre outros, de promover casamentos mistos. Em Metamorfoses Indígenas, Almeida estudou a etnogênese desses índios aldeados, que deixaram de ser identificados pelo nome de sua tribo, mas não deixaram de ser índios, e a gênese de uma nova etnia pelas misturas tribais. A dianteira das pesquisas em etnogênese está o estudioso Guillaume Boccara que auxiliou os profissionais da história ao mostrar que essas mudanças vividas pelos indígenas não são, necessariamente, negativas, pois, fazem parte do processo histórico, recurso que encontraram para fazer frente a colonização. A autora comprova que a cultura não é um sistema estável, mas algo dinâmico, em constante movimento. Para ela essas aldeias, desde o século XVI até Pombal, são um ambiente de interação de grupos sociais diversos, onde novas práticas eram aprendidas e transformadas para seu uso.
A segunda obra parte de um tema tradicional, Religião, para novas questões, novas respostas, novos ângulos, novas traduções como propõe o título de Cristina Pompa. A tradição diz que os índios transformaram-se pela catequese, sim. Pompa explica que se isso ocorreu também o jesuíta precisou modificar a si e aos seus métodos para catequizá-los. Os membros mais conservadores de Roma os criticam e escandalizavam-se por estas adaptações, porém introduzir signos da cultura indígena para ensinar era fundamental, é hoje principio básico na educação, muito conhecido entre nossos professores como “partir da realidade”. As adaptações não se resumiram ao idioma, adequando sua pregação, mas também a mediação dos mundos simbólicos que o que Cristina Pompa procura descobrir em Religião como Tradução: Tupi e Tapuia no Brasil Colonial.
Para as autoras as respostas indígenas as ações coloniais não foram apenas de negação a ela, mas respostas ativas, de modo a tomar parte da história que se construía. Ações que firmavam e afirmavam sua identidade índia na História. Tanto Cristina Pompa, quanto Maria Regina C. de Almeida abandonam a idéia de sociedades indígenas frias e ahistóricas, expondo o processo de hibridação que se coloca com a colonização. Trata-se de obras e autoras inseridas em um entendimento recente da historiografia, pois não seguem a tradição do desaparecimento indígena.
Como se chegou a essa nova historiografia? Maria Cristina Bohn Martins explica que até o século XX o indígena era um tema ausente na pauta dos historiadores, o triunfo das idéias evolucionistas e por sua vez do conceito de sociedades primitivas, levou muitos pesquisadores a ver os indígenas como em uma “eterna infância”. O primeiro manual de historiografia brasileira, de autoria de von Martius, não dedicou espaço a história indígena, enquanto que para o importante historiador Capistrano de Abreu os índios não teriam história, somente etnografia.
Os conhecimentos, fracionados em ciências incomunicáveis entre si, Arqueologia, História, Etnologia, nenhuma falava dos índios pós-conquista. O processo de mudança começa por volta da década de 40, quando por ocasião do impedimento de consultas na Torre do Tombo, a busca de fontes passa a ser realizada em arquivos americanos, o que promoveu estudos com uma ótica regional. Já na década de 80 a História recebe influências da Arqueologia e da história social, cujo enfoque encontrava-se no estudo dos grupos subalternos, um estímulo para pesquisar a marginalização, as mulheres, os negros e por extensão os indígenas.
Esse movimento de mudança na historiografia brasileira é bastante recente e muitos historiadores acreditam não existirem fontes para a construção da história das populações indígenas, porém John Manuel Monteiro, Maria Regina C. Almeida e Cristina Pompa provam que mesmo nas fontes oficiais, com as perguntas certas poderemos ouvir as vozes indígenas.
Tafnes do Canto
Sugestão de leitura:
Cunha, Manuela Carneiro da. Introdução a uma história indígena. Disponível em: Disponível em http://hemi.nyu.edu/course-rio/perfconq04/materials/text/intro_hist_indig.htm
Acessado em 16/03/2007

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