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4 de setembro de 2007

A Pedagogia do Período da Conquista do Brasil

Introdução

A Pedagogia que aqui vamos retratar embora datada a pouco mais de 500 anos, remonta uma filosofia milenar e que se estende até nossos dias. É a educação que se desenvolveu entre as tribos indígenas que aqui viviam.
Quando os europeus aqui chegaram estima-se que havia no país entre 5 milhões de nativos, sendo que só na bacia amazônica o número chega a 5.600 habitantes e cerca de 1.300 línguas somente nesta região. Estes índios brasileiros estavam divididos em tribos, de acordo com o tronco lingüístico ao qual pertenciam: tupi-guaranis ( região do litoral ), macro-jê ou tapuias ( região do Planalto Central ), aruaques ( Amazônia ) e caraíbas ( Amazônia ).
Neste ponto, destaca Caleffi: “Assim, não existe ‘o índio’ portador de uma cultura homogênea, mas um mosaico de culturas diferentes entre si e diferentes da do colonizador”. (CALEFFI, pág. 33)
Embora a educação indígena não fosse institucionalizada como a que conhecemos hoje, as formas como ocorre a educação e o que esta compreende são características e peculiares de cada cultura.
Os relatos que nos chegam até hoje são dos “descobridores” (e aqui abrimos um espaço para questionar quem são os verdadeiros descobridores desta terra) carregados de preconceitos e julgamentos sob o ponto de vista da sua própria cultura.
Américo Vespúcio ao relatar sobre uma de suas viagens ao Novo Mundo, descreve em um trecho da carta a Lorenzo de Pietro Medice o seguinte: “Esta terra é povoada de gentes completamente nuas, tanto os homens quanto as mulheres. Trabalhei muito para estudar suas vidas, pois durante 27 dias dormi e vivi em meio a eles. Não tem lei nem fé alguma, vivem de acordo com a natureza e não conhecem a imortalidade da alma. Não possuem nada que lhes seja próprio e tudo entre eles é comum; não tem províncias e reinos, não tem reis e não obedecem a ninguém”. Cristóvão Colombo também dá sua contribuição ao se referir aos índios ao reis católicos: “Estes gentios ignoram completamente a prática das armas. Com cinqüenta homens será fácil subjugá-los e fazermos deles o que quisermos.”
[1]
Ao interpretar estes dois relatos percebemos a que nível os povos ameríndios eram considerados pelos europeus: como primitivos e não civilizados, a mercê de qualquer domínio.
A visão européia não deverá servir de parâmetro para esta pesquisa, pois ela é exclusivista, distorcendo o verdadeiro sentido da educação. Caleffi nos ajuda neste sentido ao dizer que “(...) necessitamos um conceito que entenda educação com um amplo processo não vinculado necessariamente ao um sistema de ensino institucionalizado ou mesmo a existência da língua escrita, mas a educação como o processo de socialização dos indivíduos em uma dada cultura. Todos os elementos e noções que um sujeito apreende e que faz dele membro de uma determinada comunidade constitui um processo educativo. Aquilo que aprendemos de nossos pais, parentes e do grupo no qual vivemos, a forma herdada, cotidianamente reinventada de compreensão de um cosmos” (CALEFFI, pág. 32).
Cultura e educação são entendidas como processos inseparáveis, sendo assim impossível desvincular o estudo da cultura indígena de suas práticas educacionais. Desta forma, o objetivo deste trabalho é realizar um estudo da educação indígena em sua amplitude.


A Primeira Pedagogia do Brasil no Período da Conquista pelos Portugueses

A Educação no Contexto Indígena

O índio brasileiro por ocasião da chegada dos portugueses, ainda vivia na época do mito. Embora Tupã fosse seu principal deus, sua religião tinha espaço para adoração de vários outros.
Sua arte era primitiva, extraindo de algumas plantas cores fortes para a ornamentação. O índio era sadio, guerreiro e exímio em caça e pesca. As relações familiares traduziam a felicidade que viviam em seu universo. No mundo adulto permanecia o domínio da imaginação no lugar da inteligência.
“A educação indígena era eminentemente empírica, consistindo, antes de mais nada, em transmitir através das gerações uma tradição codificada. A escola era o lar e o mato; muito mais importantes as lições do exemplo que as das palavras. (...) muito mais empíricas do que científicas, muito mais físicas do que intelectualizadas, modeladoras do homem para capacitá-lo a enfrentar muito mais a vida prática e concreta do que determinada profissão, própria e típica da sociedade e cultura evoluídas”. (TOBIAS, pág. 26)
A seguir vamos analisar algumas aspectos da cultura indígena que envolvem a educação.

Religião/ Mitos

Através das histórias contadas de geração em geração que as culturas de tradição oral conseguem transmitir as novas gerações, as normas de conduta e os mitos (que são as verdades absolutas dos fundadores daquela cultura, portanto são inquestionáveis).
Conforme a citação de Caleffi:
“As normas de conduta social, bem como tudo o que um sujeito necessita saber para fazer parte de uma comunidade de tradição oral, encontram-se presentes nos mitos das culturas destas comunidades, nas histórias sagradas. Os mitos são as histórias exemplares vividas pelos ancestrais e pelos heróis civilizadores em um tempo considerado pré-humano, e contêm todos os ensinamentos necessários que um indivíduo tem que saber para pertencer a uma determinada cultura...” (CALEFFI, pág. 39).
Todos sabem contar estes mitos, e ao fazê-lo estão reafirmando e renovando sua cultura. A memória destes povos é mantida e através dela que a cultura permanece.
Estas histórias são contadas conforme a idade do indivíduo, sua maturidade, sexo e elas lhe dizem respeito dos afazeres e responsabilidades da vida.

Aprender = imitar

Nas comunidades indígenas uma das principais formas de aprendizagem é através da imitação. É imitando os adultos que os pequenos índios aprendem a caçar, a pescar, a ter cuidado com as plantas, etc. Nestes momentos onde as crianças imitam os adultos, propiciam oportunidades para brincar e escutar os ensinamentos dos mais velhos também.
As crianças não são castigadas e são tratadas pacientemente pelos adultos, que respeitam seus enganos infantis e ritmo próprio.
É através desta educação que a criança toma conhecimento dos mitos dos ancestrais, desenvolve aguda percepção do mundo e aperfeiçoa suas habilidades.

Sociedade

A sociedade indígena é fundamentada por laços de parentescos. O individuo se encontra totalmente inserido na comunidade, onde aprende seus deveres e diretos. As comunidades são estabelecidas por graus de parentesco e casamentos.
Estas sociedades apresentam um modo de produção inverso ao capitalismo sanguinário que conhecemos; trabalham apenas para viver.
A divisão do trabalho é feita por sexo e maturidade. Trabalham apenas para satisfazerem suas necessidades diárias. Alcançadas, cessam o trabalho.
Não colhiam mais que necessitavam e não pescavam além do necessário. Toda a sua subsistência era proveniente da natureza. Se, por ventura, houve algum tipo de excedente, a medida a se tomada era confraternização. Desta forma, estendiam-se mais alianças. Esse ato exprime a noção de que não possuíam bens próprios.
As técnicas utilizadas eram simples porque correspondiam a uma produção pequena, voltada para a agricultura de subsistência. Para plantar mandioca, por exemplo, cavavam o chão com algum objeto pontiagudo feito de madeira e enfiavam a rama. Depois de algum tempo arrancavam a mandioca e a transformavam em farinha, por um processo também muito simples. O mesmo se pode dizer da preparação do peixe e da caça que eram levemente assados em fogo brando.
A sociedade indígena possui lideres que eram escolhidos de acordo com a necessidade coletiva. Ele deveria ser generoso, pois assim promoveria a reciprocidade, ato de se alternarem na compartilha de alimentos e assim se socializarem; deveria ter a capacidade de oratória, pois assim ele poderia repetir elementos importantes da cultura e ter coragem para garantir a continuidade do grupo.
A relação de poder existe, mas de modo diferencial. A liderança pode ter um conhecimento mais especifico, de forma privilegiada, mas todos, de acordo com o sexo e maturidade, possuem o mesmo conhecimento. Por exemplo, todas as mulheres sabem fazer cerâmica, se esta fizer parte das atividades femininas na respectiva cultura. “Assim, não vamos encontrar um único professor nas sociedades de parentesco, mas tantos professores quantos sujeitos compuserem a comunidade, o que significa que ninguém possui um status de professor que o diferencie do corpo social. A educação, principalmente das crianças, é assumida pela comunidade como um todo”. (CALEFFI, pág. 38).

Deixando de ser criança

Quando atinge os 13 os 14 anos, o jovem passa por um teste e uma cerimônia para ingressar na vida adulta.
Em algumas tribos brasileiras, os meninos são iniciados na vida adulta através de uma cerimônia, na qual colocam uma luva cheia de formigas venenosas. Este deverá entrar pelas matas e procurar o remédio. Se não conseguir vencer esta etapa os mais velhos lhe tratam, mas não será considerado adulto.
As meninas que começam a ter menstruações são reunidas em uma cerimônia anual e são embebedadas e tem seus cabelos arrancados.


Conclusão

Para nós, os chamados brancos e civilizados, é difícil compreender e para muitos aceitar as práticas indígenas que se reproduzem ainda hoje.
Como entender uma sociedade sem um Estado institucionalizado, sem lucro nem luxo? Como aceitar o fato que produzem apenas o necessário para a sobrevivência, sem ambição, sonhos materiais?
Os nossos padrões sociais ditam regras que não nos permitem ver além das imposições da elite. Não enxergamos a beleza da convivência em grupo, da compartilha dos bens, na educação que prepara para a vida simples, mas feliz.
Os rotulamos como preguiçosos e primitivos. Sem entender que são satisfeitos e com uma cultura própria. Anulamos a história que esse povo nos legou, sem pensar que se alguns de seus valores fizessem parte da nossa educação, certamente o Brasil seria mais ético, solidário.
Porem, isso não significa que seja tarde para olharmos para o outro como alguém faz parte da minha “tribo” e que pode receber dos meus alimentos excedentes em uma confraternização de caráter recíproco.

[1] Retirado do site: http://www.vidaslusofonas.pt/

Referências Bibliográficas

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e da Pedagogia. 3ª edição. Editora Moderna. São Paulo, 2006.
STEPHANA, Maria. BASTOS, Maria Helena Câmara. Histórias e Memórias da Educação no Brasil – século XVI – XVIII. Volume 1. Editora Vozes. Petrópolis – Rio de Janeiro, 2004.
TOBIAS, José Antônio. História da Educação Brasileira. 4ª edição. Editora Ibrasa. São Paulo, 1985. 350 páginas
www.suapesquisa.com.br
www.vidaslusofonas.pt/

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