Quando passamos a refletir sobre o pensamento social, percebemos que os intelectuais brasileiros possuem um modo sui generis de criar representações da identidade de nossa nação.
José Murilo de Carvalho em capítulo denominado “Brasil: Nações Imaginadas”, presente na obra “Pontos e Bordados: Escritos de História e Política”, explica de forma arbitrária – como ele mesmo afirma – que podemos dividir em três naturezas as representações da identidade brasileira produzidas, pela elite, de 1822 a 1945:
“A primeira poderia ser caracterizada pela ausência de povo, a segunda pela visão negativa do povo e a terceira pela visão paternalista do povo. Em nenhuma o povo fez parte da construção da imagem nacional. Eram nações imaginadas.” (1999, p.233).
A visão negativa do povo foi vinculada pela geração de 1870, que tinha na época entre 20 e 30 anos. A efervescência política, social e econômica da segunda metade do século XIX, levava a elite intelectual a debruçar-se sob os problemas estruturais brasileiros que precisavam de solução, entre eles o abolicionismo, crise do regime escravocrata, que por sua vez exigia uma política imigratória e ainda, a questão republicana.
“A primeira poderia ser caracterizada pela ausência de povo, a segunda pela visão negativa do povo e a terceira pela visão paternalista do povo. Em nenhuma o povo fez parte da construção da imagem nacional. Eram nações imaginadas.” (1999, p.233).
A visão negativa do povo foi vinculada pela geração de 1870, que tinha na época entre 20 e 30 anos. A efervescência política, social e econômica da segunda metade do século XIX, levava a elite intelectual a debruçar-se sob os problemas estruturais brasileiros que precisavam de solução, entre eles o abolicionismo, crise do regime escravocrata, que por sua vez exigia uma política imigratória e ainda, a questão republicana.
Essa elite formada por nomes como Silvio Romero, Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha e o próprio Raimundo Nina Rodrigues, propagavam a idéia de que havia a necessidade do embranquecimento da nação. O “homem dos trópicos”, miscigenado, era visto com tamanha negatividade, que até mesmo Joaquim Nabuco, afrodescendente, julgava imprescindível o embranquecimento – via imigração européia-, pois não discernia como uma população negra e mestiça poderia levar o país ao progresso. Veiculavam o segundo viés apontado por Carvalho: a Escola de Direito do Recife, onde lecionava Tobias Barreto e Silvio Romero; a Escola Politécnica e a Academia Militar do Rio de Janeiro, na qual Benjamim Constant – militar, professor e estadista que propagou idéias positivistas no Brasil - ministrava suas aulas; a Escola de Medicina do Rio de Janeiro e a Escola de Medicina da Bahia, onde Nina Rodrigues trabalhou.
Sílvio Romero, autor de “História da Literatura Brasileira” (1888), foi um dos primeiros a lançar o pensamento do embranquecimento, apesar disso, em seus escritos é possível perceber que, de certa forma, valoriza a cultura africana. Raimundo Nina Rodrigues - médico legista, psiquiatra, professor e antropólogo brasileiro - dá continuidade aos estudos de Silvio Romero. Assunção Paiva, comentando “As ilusões da liberdade: a Escola Nina Rodrigues e a antropologia no Brasil”, importante publicação de Mariza Corrêa sobre o referido intelectual, afirma não ser possível considerar tarefa simples analisar Nina Rodrigues:
Desde a partida de sua terra natal, por volta de 1882, até seu estabelecimento na Bahia, passando ainda pela Corte do Rio de Janeiro, a trajetória do médico não só permanecia nebulosa como também não era ainda considerada, tal como é hoje, um símbolo privilegiado tanto para a compreensão da história da medicina como do pensamento social no nosso país “(2001, p.1)”.
Raimundo Nina Rodrigues, assim como outros pensadores da época, absorve e idéias estrangeiras sobre o racismo científico – a antropometria é trazida por Rodrigues para o Brasil-, mas as adapta para a realidade brasileira, de maneira que a mestiçagem possa trazer algo de bom para a sociedade, até porque, sendo muitos destes intelectuais mestiços, não poderiam se excluir das representações identitárias que criavam.
Sílvio Romero, autor de “História da Literatura Brasileira” (1888), foi um dos primeiros a lançar o pensamento do embranquecimento, apesar disso, em seus escritos é possível perceber que, de certa forma, valoriza a cultura africana. Raimundo Nina Rodrigues - médico legista, psiquiatra, professor e antropólogo brasileiro - dá continuidade aos estudos de Silvio Romero. Assunção Paiva, comentando “As ilusões da liberdade: a Escola Nina Rodrigues e a antropologia no Brasil”, importante publicação de Mariza Corrêa sobre o referido intelectual, afirma não ser possível considerar tarefa simples analisar Nina Rodrigues:
Desde a partida de sua terra natal, por volta de 1882, até seu estabelecimento na Bahia, passando ainda pela Corte do Rio de Janeiro, a trajetória do médico não só permanecia nebulosa como também não era ainda considerada, tal como é hoje, um símbolo privilegiado tanto para a compreensão da história da medicina como do pensamento social no nosso país “(2001, p.1)”.
Raimundo Nina Rodrigues, assim como outros pensadores da época, absorve e idéias estrangeiras sobre o racismo científico – a antropometria é trazida por Rodrigues para o Brasil-, mas as adapta para a realidade brasileira, de maneira que a mestiçagem possa trazer algo de bom para a sociedade, até porque, sendo muitos destes intelectuais mestiços, não poderiam se excluir das representações identitárias que criavam.
Entre suas obras mais importantes está “As raças humanas e a responsabilidade penal do Brasil”, escrita em um período em que grande era a preocupação para traçar um perfil do criminoso, seja o pensamento científico que o fazia pela medida de crânios, seja a imprensa popular com o surgimento dos primeiro romances policiais. Nina Rodrigues dizia que se a nação pretendia sustentar que a raça negra e mestiça são inferiores e mais propícias a violência em relação aos brancos, então deveria haver responsabilidades penais diferentes para uns e para outros.
Já “Os Africanos no Brasil”, estuda os últimos africanos, e não descendentes, que aqui viveram, idéia genial de Nina Rodrigues para entender a cultura dos mesmos. Pesquisa feita no final do século XIX e início do XX, Rodrigues sai às ruas da Bahia para conversar com africanos. Nestas entrevistas descobriu que muitos escravos do interior deslocavam-se para Salvador a fim de reencontrar parentes. Além das entrevistas, o mesmo, faz uso de jornais e documentos que serviram para localizar estes africanos. Percebeu que a cor da pele dos africanos até pode ser homogênea, mas a cultura é diversa, a partir daí buscou conhecer os principais povos da África que vieram para o Brasil. Recentemente, João José Reis tem estudado e publicado importantes descobertas sobre as lutas internas entre nações africanas que tiveram continuidade no Brasil, fruto das heterogeneidades apontadas por Nina Rodrigues. Este pensador social brasileiro discordou dos cronistas que diziam ser as insurreições negras manifestações de crueldade, apontando as raízes africanas das insurreições, devido as profundas transformações étnicas, políticas e sociais. Assim, percebemos que Nina Rodrigues não isola a África do Brasil, até porque o contato e as relações entre o continente e nosso país não termina com o fim da escravidão.
As inovações e o olhar, por vezes até a frente do seu tempo, fazem com que Raimundo Nina Rodrigues, não à toa, encontre-se nos anais dos principais pensadores da sociedade brasileira. Seus escritos e sua trajetória de vida são fonte abundante de estudo, tanto para historiadores, quanto para sociólogos, antropólogos e médicos. Ainda hoje as obras de Nina Rodrigues tratam de temas latentes como a desigualdade ou o racismo e podem ser utilizados para pensá-los. “Nossa sociedade se construiu historicamente como um espaço onde as desigualdades se expressaram tanto nas leis como nas normas sociais em urgência desde o período colonial” (CORREA, 1998, p. 72), refletir sobre essas desigualdades é “o começo do fim” da longa espera pela mudança.
Tafnes do Canto
Referências Bibliográficas
PAIVA, Carlos Henrique Assunção. Raimundo Nina Rodrigues: um antropólogo avant la lettre. Hist. Cienc. Saúde-Manguinhos vol.8 nº.3 Rio de Janeiro Sept. /Dec. 2001. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-59702001000400015&script=sci_arttext Acesso em: 04. Nov.2007.
CORRÊA, Mariza. As ilusões da liberdade: a Escola Nina Rodrigues e a antropologia no Brasil. Bragança Paulista, Edusf, 1998.
PAIVA, Carlos Henrique Assunção. Raimundo Nina Rodrigues: um antropólogo avant la lettre. Hist. Cienc. Saúde-Manguinhos vol.8 nº.3 Rio de Janeiro Sept. /Dec. 2001. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-59702001000400015&script=sci_arttext Acesso em: 04. Nov.2007.
CORRÊA, Mariza. As ilusões da liberdade: a Escola Nina Rodrigues e a antropologia no Brasil. Bragança Paulista, Edusf, 1998.
gostei muito do seu trabalho..........
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