Alguns dias atrás tive o privilégio de prestigiar o casamento de um casal de amigos em São Paulo. Embora atualmente more no interior deste mesmo estado, pude poucas vezes visitar a capital mais afamada do país. Mas consegui conferir rapidamente o panorama da cidade que diariamente tem sua vida registrada nos noticiários nacionais.
Embora eu, gaúcha da metrópole, seja uma cidadã tipicamente urbana, a nostalgia de São Paulo de certa forma contagiou-me. Se no passado as pessoas olhavam para o céu e a natureza e em suas reflexões perguntavam o “por que” e o “como” de tudo, eu reportei-me naquele momento as vastas edificações e em meio à “selva de pedras” perguntei o “para que” de tudo aquilo.
Ao longo dos milênios o homem tem procurado responder questões referentes à sua origem, sua essência, seu papel no mundo, entre outras. Mesmo com o passar do tempo, os dilemas do homem antigo continuam sendo os mesmos do contemporâneo com o agravante de hoje não sabermos responder o “para que” de tudo o que construímos.
Nos últimos anos o avanço tecnológico teve um salto gigantesco no mundo inteiro. Nós desfrutamos de tanto conforto como nenhum antepassado nosso nem mesmo sonhou em ter. A avalanche de conhecimento atingiu boa parte dos habitantes do globo. O fato é que toda revolução tecnológica e cultural que sofremos, fez a humanidade agregar valores distorcidos. Ou seja, atribuímos nossa felicidade a coisas que causam nossa própria destruição. Entramos com tudo em um processo de desumanização, suicídio coletivo.
Levando em consideração o fato de estarmos em um país com a maioria da população cristã, que possui a estrutura do pensamento com raízes filosóficas entre os gregos, judeus e cristãos, tomemos, por exemplo, a visão judaico-cristã sobre o homem para nos aprofundarmos no problema da inversão desmedida de valores. No livro do Gênesis o homem é tido como um ser criado a imagem e semelhança de Deus. Ora, o Deus bíblico tem como maior atributo o amor, tanto que o apóstolo João afirma categoricamente que aquele que não ama não conhece a Deus. Logo se Deus é amor e o homem, na visão judaico-cristã é a Sua semelhança, o homem deveria ter suas atitudes baseadas no amor também. Mas a constatação não é essa.
Volto agora as ruas frias de São Paulo. Confesso que o que mais me angustiou ao cruzá-las foi a sensação de não ser ninguém. Sentia-me invisível dentre tantos prédios e a absurda quantidade de pessoas que utilizavam as vias públicas. Soma-se ao ato a falta de um ambiente, embora urbano, típico humano: com cheiro agradável, as esquinas românticas com sorveterias e casais de namorados, os bancos com velhinhos lendo os jornais e as praças com seus jardins “florindo em crianças” (como diz a típica canção gaúcha). Senti-me arrebatada do meu habitat natural. Isto não é uma crítica a São Paulo, especificamente, é ao estilo de vida que desenvolvemos.
Este relato parece de um caipira que conhece a cidade grande (e não deixa de ser mesmo). Mas estar lá me fez pensar o quanto a “vida na roça” parece-me fazer jus à expressão, porque é lá que eu creio existir vida de realmente. A começar pelo ar, pela natureza e a tranqüilidade. Só isso já bastaria, mas ainda existe o alimento, o trabalho, o sono, a roda de conversas, o calor da família, a igreja,... Tudo isso para mim é a real vida humana. Sem estas coisas, creio ser o equivalente ao peixe viver fora d’água.
Como trocamos tudo isso por toda esta parafernália tecnológica, um sistema opressor, extremamente capitalista e ditador? Acho que pensamos que tudo isso nos traria conforto e consequentemente felicidade. Adaptamos o ambiente as nossas necessidades, em vez de nos adaptarmos a ele, pensando facilitar nosso cotidiano. E hoje, nos readaptamos a cada minuto a uma situação diferente (ás 6 acordo no meu quarto, às 7 estou no ônibus, às 8 no trabalho,...). Industrializamos nosso alimento, acreditando disponibilizar o acesso a todos, ao contrário, colhemos doença. Inventamos tantas mil embalagens, pensando deixar tudo mais higiênico, mas são com elas que sujamos e causamos tantos desastres na natureza. E fizemos isso com vários outros aspectos da vida, mas o pior creio ter sido a busca pelos nossos prazeres e conforto, sem interessar as conseqüências e a quem estaríamos prejudicando, em muitas vezes, nossos próprios filhos.
Por isso eu queria que o romantismo dos velhos tempos voltasse, para que nos inspirássemos a ser mais amorosos, pensar com mais empatia pelo meu próximo, pela natureza, e ser talvez empáticos conosco mesmo no futuro. Peço também a volta das sacolas de feira, resistentes, que uma só nos acompanhava por anos nas compras (e não 4 ou 5 sacolinhas plásticas por compra, que depois vão para o lixo), como símbolo de uma humanidade que abra mão de certas comodidades por atitudes mais ecológicas que visem à saúde do planeta. Só assim garantiremos VIDA às próximas geraçõe
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