Para responder a esta pergunta precisamos retornar a Grécia, aos primeiros filósofos, que já faziam este mesmo questionamento. Em grego a referida palavra é ta onta, que quer dizer as coisas existentes. Assim, estes filósofos dedicaram-se a estudar estas coisas e descobrir o que eram, o que significavam e como se transformavam, surge a ontologia, busca de saber sobre o Ser. Marilena de Chauí afirma que “os primeiros filósofos não tinham uma preocupação principal com o conhecimento, isto é, não indagavam se podemos ou não conhecer o Ser, mas partiam da pressuposição de que podemos conhecer.” (1995, p.109).
Os seres humanos são seres que se propõem a conhecer a realidade, a conhecer a natureza das coisas, a conhecer tudo o que existe. E se ainda fossemos fazer uma ligação com a famosa frase de René Descartes: “cogito ergo sun”, “penso logo existo”, veríamos que o homem é um ser que se, se propõe a ser uma coisa que existe, então se propõe a pensar, decide dedicar-se à procura de conhecimento.
Por muito tempo, a resposta para os porquês era encontrada nos mitos, como explica Joistein Gaarder, em seu renomado livro “O mundo de Sofia”: “as pessoas sempre tiveram necessidade de explicar os processos da natureza... E por causa disso inventaram os mitos, pois naquela época não existia a ciência”. (1995, p.40) Os primeiros filósofos já esquadrinhavam maneiras de encontrar explicações fora dos mitos, e este processo de desenvolveu ao longo dos anos e tornou-se tão valorizado, de maneira que hoje esta busca sistematizada de conhecimento, que é a ciência, se traduz em poder para aqueles que a detém.
A significativa frase, de Vieira Pinto, “o homem é um ser que se propõe a ser” é em seguida acompanhada por outra importante sentença: “e com isso modifica a si e a sua realidade”, que mostra as implicações provindas da primeira. Ou seja, quando as pessoas constroem conhecimento, elas modificam a si mesmas e aquilo que as cercam. É o que Heráclito de Éfeso queria dizer quando afirmava que “Não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio, porque as águas nunca são as mesmas e nós nunca somos os mesmos.” Ora cada dia que aprendemos algo novo, isso nos constitui e isso mudará também a forma como agimos com as pessoas e as situações.
Por isso, conhecimento é também poder de mudança para aqueles que o buscam e o aplicam.
Tafnes do Canto
Bibliografia
PINTO, Álvaro Borges Vieira. Ciência e existência: problemas filosóficos da pesquisa científica. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
CHAUÍ, Marilena de Souza. Convite a filosofia. 1. ed. São Paulo: Ática, 1995. Pág. 109 a 119.
GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia: romance da história da filosofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. Pág. 34 a 40.
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