Por Tafnes do Canto
É curioso como em todas as sociedades se produzem um conjunto de histórias criativas e profundas a respeito do mundo físico e metafísico. A estas histórias chamamos mitos. Eles têm como principal objetivo “explicar às pessoas algo que elas não conseguem entender” (GAARDER, 1996, p.38).
Lendas foram criadas e continuam sendo criadas, pois revelam aquilo que os seres humanos têm em comum, é como explica Moyers, em seu diálogo com uma das maiores autoridades em mitologia, Joseph Campbell, na obra O Poder do Mito: “mitos são histórias de nossa busca da verdade, de sentido, de significação através dos tempos” (1990, p.5). Assim, a mitologia surge independente do tempo ou do espaço, já que a humanidade está em constante busca de respostas para seus porquês, de sentido para sua existência e das coisas que a cercam. É como as alegorias gregas sobre os deuses controladores da chuva, do Sol e das marés que esclareciam muitos fenômenos da natureza antes que a ciência viesse a explicá-los.
Porém, não é possível julgar levianamente a mitologia como um produto da ingenuidade. Mitos nos levam a refletir sobre temas complexos da vida. Como exemplo, pode-se citar Édipo, “o herói de uma das mais célebres lendas da literatura grega, depois do ciclo troiano” (GRAMAL, 1992, p. 127). Édipo Rei, como ficou conhecido através dos escritos de Sófocles, foi predestinado a assassinar seu pai e unir-se em matrimônio com a própria mãe. O pai, Laio, amedrontado pela maldição abandona o filho, a criança é encontrada e adotada pelo rei de Corinto. Ao descobrir sua sina, sem saber que a realeza coríntia não era sua família biológica, resolve fugir para livrar-se de tamanho opróbrio. No caminho mata Laio e casa-se com sua esposa.
Seja há 2500 anos atrás, quando surgiu, ou ainda em nossos dias, o mito de Édipo discute o destino. “Há um destino. No caso de Édipo, o oráculo predissera que ele mataria o pai e casaria com a mãe. De quem é a culpa? A culpa não é dele. A culpa vem de trás, é uma culpa herdada” (JOBOUILLE, 1993, p. 22). Assim, a interpretação do mito é a idéia de liberdade versus destino. O mito propõe que os seres humanos são predestinados e automaticamente nega que somos seres dotados de livre-arbítrio. Então, independente das escolhas a humanidade jamais poderia fugir daquilo que os deuses determinaram, assim como Édipo, por mais que se esforçasse não pôde fugir de sua sina. Deste modo, talvez sua função seja explicar, até mesmo isentar-nos de nossas atitudes, aliviando as culpas por nossas falhas, escolhas erradas e decisões precipitadas. Ou ainda, uma mensagem de que embora dotados de liberdade, muitas vezes estamos condicionados por nossa genética, educação e experiências.
Bibliografia:
GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia: romance da historia da filosofia. São Paulo: Cia. das Letras, 1996. Pág. 34 a 40.
SÓFOCLES. Édipo rei. São Paulo: Scipione, 2002.
JOBOUILLE, Victor. Do Mythos ao Mito. Lisboa: Ed. Cosmos, 1993. Pág. 21 a 26.
GRIMAL, Pierre. Dicionário da Mitologia Grega e Romana. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand, 1992. Pág. 127 a 129.
CAMPBELL, Joseph com Bill Moyers. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Atenas, 1990. Pág. 3 a 80.
Lendas foram criadas e continuam sendo criadas, pois revelam aquilo que os seres humanos têm em comum, é como explica Moyers, em seu diálogo com uma das maiores autoridades em mitologia, Joseph Campbell, na obra O Poder do Mito: “mitos são histórias de nossa busca da verdade, de sentido, de significação através dos tempos” (1990, p.5). Assim, a mitologia surge independente do tempo ou do espaço, já que a humanidade está em constante busca de respostas para seus porquês, de sentido para sua existência e das coisas que a cercam. É como as alegorias gregas sobre os deuses controladores da chuva, do Sol e das marés que esclareciam muitos fenômenos da natureza antes que a ciência viesse a explicá-los.
Porém, não é possível julgar levianamente a mitologia como um produto da ingenuidade. Mitos nos levam a refletir sobre temas complexos da vida. Como exemplo, pode-se citar Édipo, “o herói de uma das mais célebres lendas da literatura grega, depois do ciclo troiano” (GRAMAL, 1992, p. 127). Édipo Rei, como ficou conhecido através dos escritos de Sófocles, foi predestinado a assassinar seu pai e unir-se em matrimônio com a própria mãe. O pai, Laio, amedrontado pela maldição abandona o filho, a criança é encontrada e adotada pelo rei de Corinto. Ao descobrir sua sina, sem saber que a realeza coríntia não era sua família biológica, resolve fugir para livrar-se de tamanho opróbrio. No caminho mata Laio e casa-se com sua esposa.
Seja há 2500 anos atrás, quando surgiu, ou ainda em nossos dias, o mito de Édipo discute o destino. “Há um destino. No caso de Édipo, o oráculo predissera que ele mataria o pai e casaria com a mãe. De quem é a culpa? A culpa não é dele. A culpa vem de trás, é uma culpa herdada” (JOBOUILLE, 1993, p. 22). Assim, a interpretação do mito é a idéia de liberdade versus destino. O mito propõe que os seres humanos são predestinados e automaticamente nega que somos seres dotados de livre-arbítrio. Então, independente das escolhas a humanidade jamais poderia fugir daquilo que os deuses determinaram, assim como Édipo, por mais que se esforçasse não pôde fugir de sua sina. Deste modo, talvez sua função seja explicar, até mesmo isentar-nos de nossas atitudes, aliviando as culpas por nossas falhas, escolhas erradas e decisões precipitadas. Ou ainda, uma mensagem de que embora dotados de liberdade, muitas vezes estamos condicionados por nossa genética, educação e experiências.
Bibliografia:
GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia: romance da historia da filosofia. São Paulo: Cia. das Letras, 1996. Pág. 34 a 40.
SÓFOCLES. Édipo rei. São Paulo: Scipione, 2002.
JOBOUILLE, Victor. Do Mythos ao Mito. Lisboa: Ed. Cosmos, 1993. Pág. 21 a 26.
GRIMAL, Pierre. Dicionário da Mitologia Grega e Romana. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand, 1992. Pág. 127 a 129.
CAMPBELL, Joseph com Bill Moyers. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Atenas, 1990. Pág. 3 a 80.
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