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29 de janeiro de 2007

Por que assistimos ao BBB?

“As celebridades não têm profissão, trabalho, esforço, não tem biografia. E o pior é que os jovens acreditam nessas pessoas”. Nélida Piñon,

Pois num dia desses resolvi assistir ao Big Brother Brasil 7 para tentar compreender porque tanta tietagem em torno do programa. A primeira vista me pareceu até que era igual aos anteriores, até as caras dos entusiasmados participantes pareciam-me as mesmas das primeiras edições (e não eram?). Nunca acompanhei ao programa de perto, mas pelo que vi não mudou muita coisa em relação ao primeiro.

Festas, conversas, beijos, fofocas, intrigas, sexo, alguém com a ______ pintada de vermelho em cima do poste. Opa, este último não cheguei a ver, mas ao que me parece é que todos queriam chamar a atenção para si o máximo que conseguiam, e se não alcançaram, dou esta sugestão. Ela é muito eficaz, todos que utilizaram este meio para alcançar este fim, obtiveram êxito.

O mais angustiante é que fiquei sabendo que não podem nem ler um livro durante os três meses que passam confinados na casa. Um esforço bem grande, que talvez o prêmio dado ao vencedor compense. Por outro lado, talvez isso nem seja problema para nenhum participante (uma hipótese dura, mas sem dúvidas bastante realista).

A questão é: por que assistimos ao BBB? Por que os jornais dedicam páginas cobrindo o dia-a-dia dos participantes no programa? Por que gastamos saliva comentando sobre a vida de pessoas que nunca vimos, que não exercem nenhuma influência sobre nós? Por que tantas pessoas utilizam pay-per-view para vigiar 24 horas a vida de desconhecidos?

Eis o que chamo de incógnita. E não é uma simples equação. É algo que diz sobre nossa identidade cultural, questões éticas e até mesmo nossa natureza humana. Vai muito além dos números do IBOPE da Rede Globo. Um problema filosófico e moral “federal” (uma expressão que vem a calhar perfeitamente com o contexto, no sentindo de grande e também porque envolve todo o país).

Até entenderia se o que assistíssemos fosse o que acontece dentro da casa dos vizinhos, dos familiares, ou até do prefeito da cidade. Pelo menos seria sobre a vida de pessoas que conhecemos, que amamos ou odiamos. Poderíamos descobrir o que pensam sobre nós, se planejam algo, coisas do tipo. Mas não vejo nem um vigilante empolgado com o que observa através do monitoramento eletrônico de segurança. Nem a TV Senado ou da Câmara assistimos com tanto interesse, sendo que nossos interesses estão sendo ali defendidos (ou não, mas isto é assunto para outra hora).

Mas não, vigiamos pessoas que não sabemos nada a respeito delas, a não ser o que elas mesmas contam. Posicionamos-nos contra ou a favor delas. Vivemos suas angústias a cada paredão, a cada injustiça (injustiça?).

O Jornal Folha de São Paulo questionou as razões dos interesses dos telespectadores ao assitirem o programa. Pasmem, mas o resultado apontou em primeiro lugar para “preguiça: besteirol e conteúdo vazio dos participantes não exigem muito esforço mental do telespectador" e em segundo lugar “gosto pelo grotesco: programa incentiva situações constrangedoras, ridicularizantes e preconceituosas”.

Como se pode notar, o sucesso do programa está explicado. Ele na verdade, extrapola as expectativas do telespectador com níveis de “baixarias” que se superam a cada edição do programa.

Note que os telespectadores do programa são nossos vizinhos, amigos, professores, dirigentes e na pior das hipóteses, eles estão dentro da nossa própria casa. Estão por toda parte. Ou seja, são os mesmos membros da nossa sociedade. Uma conclusão um tanto óbvia, eu sei, mas não deixa de me aterrorizar.

O BBB infelizmente é raio-x da população brasileira. Enquanto as pessoas continuarem a ter preguiça para pensar e terem gosto pelo grotesco, seria recomendável que ninguém mais reclamasse da corrupção dos nossos políticos, dos escândalos, porque eles também estão correspondendo às expectativas do povo.

Acorda Brasil, já é tarde!


Liege de Oliveira

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