Por Tafnes do Canto
O título homônimo deste texto remete ao prefácio do livro-diálogo de Paulo Freire e Ira Shor, Medo e Ousadia: O Cotidiano do Professor. Embora a referida leitura sirva de inspiração, um sonho é algo muito pessoal. Então, o que apresento aqui não é o sonho do professor Paulo Freire e da professora Ira Shor sobre a educação libertadora. Mas, o meu próprio sonho de educação libertadora.
A educação libertadora começa com a consciência da falta de liberdade. Ao admitir esta condição – e aqui vai o trecho que considerei mais inspirador -,
“podemos aprender a ser livres, estudando nossa falta de liberdade. Esta é a dialética da sala de aula libertadora. É um lugar em que pensamos criticamente sobre as forças que interferem em nosso pensamento crítico. Assim, as salas de aula libertadoras iluminam as condições em que nos encontramos para ajudar-nos a superar estas condições” [1]
Temos livre-arbítrio, diariamente tomamos decisões. O que acontece é que esta aparente liberdade está condicionada, é influenciada por meios de comunicação, instituições, órgãos e líderes das mais variadas organizações que proclamam seu ponto de vista para serem absorvidos pelas massas (e este é apenas um modo pelo qual a liberdade pode ser condicionada). É por isso que pensar criticamente é tão importante para o sonho de uma educação libertadora tornar- se uma realidade.
A sala de aula libertadora promove o desenvolvimento do indivíduo de modo que ele possa pensar por si mesmo, olhar a informação e analisá-la sob diversos ângulos. Pense no que isso pode promover. Vejo um ser humano que é capaz de compreender o próximo por que desenvolveu algo pouco conhecido em nossos dias, a empatia. Vejo um cidadão que não se deixa enganar, pois não aceita tudo o que lhe dizem. Vejo uma população que não se conforma com a fome, com a guerra, com o desemprego. A mudança, no entanto, não vem de uma visão negativa. A mudança vem de uma ação positiva. A educação pode não ser libertadora agora, mas esta não precisa ser uma situação permanente. E penso ainda que em muitos lugares esta transformação já começou a acontecer, mesmo que seja nos pensamentos, nos desejos e certamente nas salas de aula de professores sonhadores, que não se incomodam em receber a alcunha de utópicos.
É difícil para uma sociedade acostumada ao imediato, ao instantâneo compreender que a educação libertadora é um processo contínuo e progressivo que dura a vida toda – a escola não é a única e total responsável. Não se trata de acumular conhecimento por anos e anos, este não é o objetivo da educação libertadora. Seu intuito é preparar o individuo para a vida, para ser útil, para contribuir e ser agente de transformação em sua comunidade- falo da comunidade, porque seria um trabalho hercúleo para um individuo ser responsável pela mudança da sociedade.
A educação libertadora precisa romper com a lei mercadológica, a escola não é um supermercado de informações, o currículo não é a lista de produtos. Não é suficiente formar indivíduos com capacidade intelectual e amplo conhecimento. Além do mais, o professor que sonha com uma educação libertadora entende que a aquisição desses conhecimentos não são uma finalidade, mas uma forma de servir melhor a sociedade. De outro modo, teremos indivíduos de grande capacidade visando apenas grandes lucros, não haverá consciência social, nem o entendimento do que cada ato inconseqüente pode provocar em outrem e ao meio ambiente. Professores que sonham com a educação libertadora entendem a importância de desenvolver o senso de responsabilidade social em seus alunos, pois a educação por si só não faz sentido sem utilizá-la em benefício dos semelhantes.
[1] FREIRE, Paulo e SHOR, Ira. Medo e Ousadia: O Cotidiano do Professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986, p. 25.
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